O que eu aprendi ao voltar de lá
- GRAZIANO ANDRADE
- 19 de abr.
- 2 min de leitura
Nos últimos quatro anos, temos feito uma caminhada até Nova Trento, no Santuário Santa Paulina… saímos às 3h30 da madrugada para um trajeto a pé de 16 km.
Vamos certos dos desafios que enfrentaremos no caminho, mas sem a certeza de como voltaremos para casa.
Eu sei que Jesus já pagou pelos nossos pecados e que não precisamos sofrer para provar algo.
O questionamento frequente sempre foi: Por que você vai? Fez alguma promessa? Está pedindo algo?
E eu entendo a curiosidade — também sou curioso, e muito.
Mas a resposta sempre foi a mesma: nada disso.
Eu vou porque gosto. Simples assim.
Confesso que esse questionamento constante me causava um certo desconforto, justamente por não haver uma resposta "lógica".
Mas hoje, entendi o porquê da minha ida.
Foi observando pessoas, os desafios pessoais de quem já havia chegado ao destino, que percebi o verdadeiro motivo da minha caminhada anual.
Eu gosto de voltar sabendo que aprendi algo novo — um novo olhar sobre a fé, sobre as pessoas, sobre o mundo.
Gosto de ver pessoas enfrentando seus próprios limites físicos e mentais e, mesmo assim, persistindo.
Gosto de sentir orgulho de quem se permite ir, apenas por ir.
Gosto de observar as companhias daquele momento e ver seus desconfortos diante da incerteza da volta ou do ambiente.
São aprendizados que, na correria da vida, dificilmente teríamos tempo ou profundidade para absorver.
Então, não é sobre por que eu vou, e sim o que eu aprendo ao voltar.
Voltei compreendendo que falar de humildade é fácil, mas que na hora de pedir uma carona para voltar pra casa, muitos se travam.
Falar sobre a vida corrida já virou discurso pronto, mas ainda assim, seguimos com pressa para chegar ao destino.
Caminhar no escuro e lidar com o medo é coisa de gente corajosa.
Pedir que alguém te busque é deixar o orgulho de lado e entender que sempre vamos precisar do outro.
Ir sem a garantia de um retorno confortável (de carro, por exemplo) é se permitir ser surpreendido pela vida — é entender que nem sempre precisamos de controle.
Ficar sem internet por 3h30, tendo apenas a companhia de poucas pessoas, e mesmo assim se sentir bem, é perceber o quanto a ansiedade tem distanciado as pessoas e o quanto é necessário, às vezes, se desconectar para se conectar consigo mesmo — e com os outros.
A pergunta que fica é: você deixará morrer o medo, o controle, o orgulho, a pressa, a ansiedade… depois de uma caminhada como essa?
Durante o percurso, todas essas sombras vêm à tona. E você, sem internet (porque no meio do mato não pega), se vê frente a frente com tudo isso.
Afinal, ele não veio ao mundo para nos ensinar sobre humildade, perseverança, persistência, coragem, resiliência, compaixão?
Se permita ir, sem motivo algum.
Apenas com a intenção sincera de aprender algo novo no retorno.
Feliz Páscoa!

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