Onde se encontra a felicidade?
- GRAZIANO ANDRADE
- 24 de abr.
- 1 min de leitura
Há um ano, fui a um casamento em São Miguel dos Milagres, Alagoas, para celebrar a união de amigos. Na manhã seguinte, decidi caminhar pela praia e conhecer melhor a região. Foi então que vi um senhor escrevendo poesia na areia. Aquilo me paralisou. A letra era bonita, desenhada com calma. Ele se agachava com serenidade, como se cada palavra fosse um gesto de cuidado.
Esperei ele quase terminar, me aproximei e perguntei o motivo daquilo. Ele me respondeu com um sorriso sereno:
"Perdi minha fortuna com o confisco da poupança, entre 1990 e 1992. Desde então, encontrei na poesia e no mar a verdadeira felicidade."
Ali, no Porto da Rua, um dos recantos de São Miguel, cercado por pescadores, turistas e alguns resorts de luxo, seu Antônio transformava areia em poesia — e dor em beleza.

Escrever na areia virou seu hobbie. Mas poderia ser também um ofício: suas poesias poderiam virar quadros, camisetas, lembranças ou até histórias contadas em forma de rima para turistas. Mas talvez seu Antônio tenha preferido deixar a poesia onde ela nasceu: efêmera, leve e cheia de alma.
A felicidade, no fundo, é isso. Está no sentir. Está em traduzir a vida da forma mais genuína possível. Alguns encontram isso no campo. Outros na correria da cidade. Mas todos, cedo ou tarde, descobrem que é preciso um olhar apurado, sensibilidade e a coragem de valorizar o que parece pequeno.
Seu Antônio escreveu na areia — e deixou em mim algo que nunca será apagado.

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