O que os gestores precisam entender sobre o boom migratório em Santa Catarina
- GRAZIANO ANDRADE
- 3 de jul.
- 4 min de leitura

Nos últimos dias, tivemos a notícia de que Santa Catarina se tornou o estado com maior crescimento populacional do Brasil em número de migrantes. Antes de colocar meu olhar sobre isso, quero deixar claro: eu sou uma dessas pessoas. Eu e minha família chegamos ao estado em 1993, vindos de Minas Gerais. Meus pais buscavam oportunidades profissionais e um futuro melhor para nós. Uma história semelhante à de muitos que chegam hoje.
Faço essa introdução não por medo, mas para avisar aos chatos da internet que nem toda reflexão é xenofobia. E que alguém precisa falar sobre as dores que vêm sendo vividas no mercado de trabalho, causadas por algo invisível, mas potente: a falta de comunicação.
E eu me coloco nessa posição com legitimidade: tenho vivência nos dois lados. Sou migrante e, profissionalmente, atuo como ponte entre empresários, gestores, líderes e migrantes.
Escrevo para os líderes que contratam, para os migrantes que chegam e para quem vive entre esses dois mundos: todos temos algo a aprender e a contribuir.
Entre 2017 e 2022, Santa Catarina recebeu mais de 503 mil novos habitantes vindos de outros estados. O saldo migratório positivo de 4,66% foi o maior do país no período, colocando o estado como destino favorito para quem busca uma nova vida.
Como profissional da área de gestão de pessoas, ouço inúmeros relatos de clientes e mentorados sobre a dificuldade dos líderes em compreender a cultura do outro, e do outro em compreender a cultura da empresa. Temos aí um problema silencioso, mas muito real: o choque cultural.
Muitos vivem isso e nem sabem nomear. Outros sentem, mas não sabem expressar.
Os 4 tipos de choque cultural no trabalho
1. Choque de comunicação: expressões, tom de voz, informalidade/formalidade.
2. Choque de valores: ética, pontualidade, responsabilidade, gratidão.
3. Choque de expectativas: visão de carreira, relação com o líder, crescimento.
4. Choque de pertencimento: dificuldade de se sentir aceito no grupo.
Ambos os lados carregam convicções, crenças, referências, valores e ambições diferentes. Muitas vezes, estão falando idiomas emocionais completamente distintos.
E como resolver isso?
Com conhecimento. Com consciência. Com intencionalidade.
Levar profissionais para elevar o nível de consciência dos colaboradores gera um impacto positivo que vai muito além do time, pode transformar até o filho que ficou em casa e recebeu um pai tocado por um aprendizado aparentemente simples.
Frases reais que revelam o choque cultural (dos dois lados)
Do gestor:
“Eles chegam aqui e não têm noção de como funciona a empresa.”
“A gente dá oportunidade, mas eles não valorizam.”
Do migrante:
“Lá onde eu morava era diferente… aqui parece que tudo é mais frio.”
“Sinto que não sou bem-vindo… me tratam como se eu fosse inferior.”
Estratégias práticas: o que fazer?
Para líderes e gestores:
Promova a escuta ativa: crie momentos para ouvir histórias dos colaboradores.
Ofereça treinamentos de acolhimento cultural: simples, mas transformadores.
Crie padrinhos ou mentores internos para os primeiros meses.
Evite julgamentos apressados: observe antes de rotular.
Para migrantes:
Busque entender o contexto local: pergunte, observe, respeite.
Compartilhe sua cultura com humildade: histórias abrem portas.
Seja intencional ao criar vínculos: pertencimento se constrói na constância.
Por que não levar conhecimento para quem acabou de chegar ao estado e não teve ninguém que lhe ensinasse a ser pontual, a cumprir o que promete, a agradecer pela oportunidade recebida ou, simplesmente, a encontrar o posto de saúde do bairro? Há dores que não aparecem no currículo: o frio por falta de agasalho, o tênis molhado de quem caminha longas distâncias para trabalhar, o medo de errar o tom de voz ou o jeito de falar com o chefe. Muitos não tiveram referências, mas têm vontade. Falta ponte. Falta alguém que explique os códigos invisíveis do lugar. Ajudar, nesse contexto, não é caridade, é responsabilidade social e liderança real. É oferecer o que te sobra: um pouco de tempo, um pouco de paciência, um pouco de conhecimento sobre como as coisas funcionam aqui. E, às vezes, o que te sobra é exatamente o que vai permitir que o outro permaneça, aprenda e prospere. Porque o que sustenta um time diverso e forte não é apenas competência, é acolhimento ativo, é cultura ensinada com empatia e é o simples ato de lembrar que todo recomeço carrega mais silêncio do que segurança.
Minha experiência e da minha família
Crescemos em um lar humilde e cheio de amor em Santa Catarina. Tive a sorte de fazer parte de uma família grande, que mesmo à distância se mantém próxima por meio de festas e encontros anuais. Sempre estive cercado por referências de empreendedorismo da família que ficou em Minas: tios, tias, primos e primas com negócios nas áreas de farmácia, vestuário, materiais de construção, açougue… e muitos autônomos.
Parentes na política, desde sempre, querendo transformar o meio em que vivem.
E o que mais vi neles foi uma vontade genuína de ajudar o outro... típica do mineiro.
Ao chegar em Santa Catarina, enfrentei um choque cultural profundo. Levei anos para entender e me adaptar. Mas uma coisa posso afirmar com certeza: quando o catarinense confia, ele te ajuda, te eleva e faz de tudo para ver você vencer na vida.
Aqui, o povo acolhe sim. Aqui, o povo ama trabalhar. Aqui, muitos empreendem porque querem impactar. E é por isso que eu afirmo: o catarinense ajuda quem quer ser ajudado. Eu e minha família fomos (e somos) prova disso.

Conclusão
Santa Catarina é terra de oportunidades.
Mas também é terra de códigos invisíveis.
Quem chega precisa decifrá-los com respeito, curiosidade e humildade.
E quem já está aqui... empresários, líderes e cidadãos, pode ser ponte, não muro.
Liderar é acolher. Crescer é se misturar.
E no fim das contas, todo migrante só quer o que qualquer um de nós também quer:
pertencer e prosperar.
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